sábado, 10 de setembro de 2011

Ida e volta Severina!

Sentada no ônibus lotado indo em direção ao trabalho, perdida em um avalanche de pensamentos se depara pela janela com a visão do táxi mais curioso de todos os tempos. A parte interna do carro era toda decorada com a temática "cachorrinhos". Isso significa que o painel e aquela tampa da mala na parte de trás do carro eram completamente cobertas por aqueles cachorrinhos de camelô que balançam a cabeça incessantemente com a vibração do motor. Tentava imaginar quantos cachorrinhos deveria ter ali. Para completar a excentricidade da coisa, as paredes internas eram cobertas de adesivos que imitavam papinhas de cachorro. Tá bom pra vocês? Resolveu "analisar" o motorista do táxi. O sujeito, claro, não ficava atrás! Usava um colete de couro preto por cima da camisa social branca, boina preta e pra arrematar o visual, aquelas clássicas luvas de couro sem dedos de motoqueiro.

Foi demais pra sua cabeça! Tanta informação junta deu sono. Resolveu tirar aquele cochilo básico e digno da galera que consegue um lugar sentado no ônibus. Acordou assutada, teve a impressão de que todos a sua volta falavam uma língua desconhecida. Olha pros lados, escuta. Foi engano, mais cochilo!

Acorda novamente, vê a moça sentada do outro lado do corredor ser furtada por um sujeito que tinha "cara do que ia fazer". Ele corre pela principal rua do centro com o celular que "ganhou" nas mãos. Passa em frente a dois policiais que conversam animados e distraídos em frente ao parque. Mesmo diante da cena curiosa e com os gritos dos passageiros, os dois nem se movem. O papo estava mais interessante! A mocinha sem celular, resignada julga melhor deixar pra lá e ir trabalhar. Nada vai mudar!

Passa o susto. O sono chega novamente. A linguagem estranha interrompe o cochilo mais uma vez. Ela se pergunta que língua é aquela que as pessoas estão falando. Não é inglês, tampouco francês. Nem espanhol, nem alemão, nem japonês, muito menos português?! Algum dialeto africano talvez? Desiste de decifrar o enigma!  Finalmente chega ao destino arrependida por ter esquecido o fone de ouvido.

Como tudo que vai uma hora volta, chega a segunda fase da odisseia diária.

Ônibus com ar condicionado, lotado. Todos espremidos. Uns com o desodorante vencido desde a noite anterior. Ela decide se concentrar em outra coisa pra ver se o cheiro fica menos sufocante no coletivo trancado. Observa uma família sentada. Esposa, marido e filhinho. Os três comem milho e tomam guaraná natural de R$1,00. Conversam aos berros! O cheiro de falta de banho volta a incomodar. Ela olha para outro lado. Localiza o foco da catinga. Vinha de um rapaz que lia um livro de filosofia e tinha "pinta de universitário-intelectual-revolucionário"! O moçoilo barbudo desce com a graça de Deus no ponto da universidade. Ela já sabia. Pena que não acerta assim na mega sena. A trololó family deixa o ônibus logo em seguida. Deixam uma herança, o banco que ocupavam em petição de miséria. Grãos de milho esmagados e guaraná nos assentos. Por sorte, ela traz na bolsa lenços umidecidos, coisa de usuário dos coletivos da cidade. Limpa o banco e se senta! Vê o comércio de rua passando pela janela pra esquecer a irritação por que o ônibus continua com o fedor do rapaz e pela falta de educação das pessoas. Depois de alguns minutos, muito trânsito e a impertinência de um rapaz que decide compartilhar seu setlist recheado de funks grostescos e pagodes depressivos com todos os passageiros do "bus", consegue finalmente descer em seu bairro rumo a sua casinha.

Ao chegar liga a tv para saber as últimas notícias. Um ônibus acabara de ser sequestrado, pessoas baleadas, não se sabe quem fez os diparos. Bandidos ou Polícia? Pensa o quanto é desgastante e arriscado se locomover pela cidade. Uma pena! Um barulho irritante e insistente ao fundo. O que será? Ah, é o despertador está na hora de levantar pra ir trabalhar. Senta na cama e pensa que foi apenas um pesadelo! Será? Vai se arrumar sonolenta para enfrentar mais um dia de caos no trânsito, transporte coletivo digno de país de 8º mundo, insegurança, desordem e tudo o mais que só os governantes são capazes de promover em "benefício" do povo. E ainda dizem que a cidade poderá sediar eventos esportivos internacionais. Como?
Ninguém sabe! Na dúvida do que a aguarda pede proteção a Deus e segue sua jornada diária.

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    Em busca de padrões internacionais.