quarta-feira, 23 de março de 2011

Passado, presente e futuro

Estava passeando esses dias com meu baby aqui pertinho de casa e vi a moça que cambonei na primeira casa de Umbanda que fiz parte do corpo mediúnico. Vê-la me trouxe uma série de lembranças, nostalgia, tristeza, alegria, reflexões.


Naquela casa todas as entidades de médiuns trabalhadores tinham cambonos fixos e em alguns casos mais de um. Eu era cambona da Cabocla Jussara! Essa experiência foi muito decepcionante, pois não houve nenhum tipo de ensinamento, nenhuma conversa. Minha função se resumia a acender charuto, pegar água e andar atrás da Cabocla durante um determinando momento da gira esperando que ela me pedisse alguma destas coisas. Alguns podem me dizer que isso é falta de humildade minha, pois servir é uma forma de aprendizado.


Concordo, servir é uma excelente forma de aprendermos. O que não concordo é com o distanciamento imposto entre entidade e cambono. Não concordo com vaidades. Isso mostra o quanto do médium em desequilíbrio se sobressai a entidade. Nenhuma entidade de Luz deixa de transmitir ensinamentos aos seus filhos, sejam eles seus médiuns auxiliares, cambonos ou assistentes. Porém, como bem diz um amigo meu, naquele lugar, em muitos casos, o conhecimento está justamente em saber distinguir o certo do errado. O que se deve fazer e o que nunca devemos pôr em prática ou absorver para nossas vidas.


Como não só de lembranças ruins nosso passado é constituído, neste mesmo lugar conheci entidades maravilhosas, pessoas admiráveis que são queridíssimas até hoje. Guardo um enorme carinho daquele templo e tive enorme dificuldade para me desligar de lá. Foi preciso que seu Boiadeiro Laçador me desse inúmeras chamadas e me auxiliasse bastante para que eu caminhasse em minha nova estrada.


Esse processo foi bastante doloroso! Não entendia porque eu deveria naquele momento de transição, entre uma casa e outra, me desligar de tudo o que eu havia passado. Sou uma pessoa nostálgica por natureza e  me perguntava como "esquecer" todo carinho e gratidão que eu tinha por aquele lugar que me abriu tantas portas e janelas para a vida espiritual, e por que não dizer material. Ali foi o único local, naquele período, onde encontrei a minha calmaria depois de tantos tormentos.


Naquela esquina, revendo aquela médium, pude entender perfeitamente que eu havia chegado onde deveria quanto a minha ligação a antiga casa. Eu conseguira me desligar sem que isso me impedisse de viver minhas novas experiências. No fundo, o que acontecia é que durante alguns meses eu ainda vivia com a esperança de voltar, mas isso nunca aconteceria. Enquanto eu continuasse cantando os antigos pontos, continuasse estreitando os laços com os amigos que conheci lá, meu coração não se abriria verdadeiramente a minha nova casa, a minha nova missão, aos meus novos amigos e minha nova família espiritual. Tudo isso porque eu acreditava que esse afastamento era uma espécie de traição.


Custei a entender que a Umbanda não está em um lugar determinado, em um endereço específico. E talvez por isso eu tenha demorado tanto tempo a voltar a pisar em um terreiro. Até pra chegar a essa primeira casa onde trabalhei passei por uma luta. Tive que tirar da minha cabeça a referência do centro familiar onde cresci e que freqüentei até fazer meus 13 anos, quando esse fechou suas portas. Minha mediunidade fora travada uma vez pelo meu apego e seria novamente se o seu Boiadeiro não fosse tão presente e exigente quanto à minha postura. Hoje só tenho a agradecer! Por aquilo que passei, pelo que passo e por tudo que ainda passarei... 




"A gratidão é a memória do coração". 
Antístenes