quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Tá no sangue


Foi com seu marido a uma roda de samba promovida por um bloco carnavalesco em São Cristóvão. Não fazia parte daquele ambiente e não se sentia confortável, mas tentava conversar.

Logo sentiu um cheiro de ervas queimando. Pensou: Ah, que cheiro mais gostoso! Olhou para os lados procurando de onde vinha aquele aroma tão familiar. Desconfiou de um corredor onde havia uma vela acesa bem na entrada. Era a vela dos Guardiões. Só podia ser! O amigo do marido confirmou, no final daquele corredor havia uma casa de Umbanda em trabalho. Era dia de gira de Exú.

Algumas pessoas que estavam no evento freqüentavam aquela casa e resolveram entrar. Resolveu ir também conhecer a casa, afinal aquele evento não estava lhe dizendo absolutamente nada.

A casa era muito humilde, com pouquíssimos médiuns e uma assistência considerável. Como o terreiro era pequeno tanto os médiuns quanto a assistência ficavam numa espécie de quintal. As entidades falavam com todos que estavam presentes. Se aproximavam de um por um. Ela entrou e sentiu a vibração do lugar, achou muito boa e se sentiu confortável para observar de um cantinho o funcionamento da casa, o trabalho das entidades, ouvir as gostosas gargalhadas dos guardiões, descarregar.

Conversando baixinho com outras pessoas que se encontravam mais afastadas, aguardando as palavras dos amigos Exús que estavam presentes, soube que todos esperavam ansiosos a chegada da querida e carismática Dona Sete, entidade que trabalha com a Babá daquela casa.

Nesse cenário os guardiões continuavam conversando aos poucos com todos até que o Malandro se aproximou dela, com sua roupa de linho branca alinhada, seu cigarro numa das mãos e seu copo de cerveja na outra. Contrariando sua postura divertida, muito sério ele lhe disse: A curiosidade matou o gato!

Realmente estava muito curiosa e soube na hora que o “recado” dado pelo Malandro na verdade vinha de outra entidade. Vinha do seu pai, era do seu Laçador! Sabia que não estava sendo repreendida por entrar ali, era mais um lembrete, pois para cada ato existe uma conseqüência.

O Malandro continuou conversando com ela e ofereceu seu copo e lhe disse: Beba três goles e faça seu pedido. A moça obedeceu. Bebeu com fé a cerveja e fez seu pedido. Desejando principalmente que seu merecimento possibilitasse sua realização. Devolveu o copo ao Malandro que se afastou após mais algumas brincadeiras.

Chegou o momento da tão aguardada incorporação da Dona Sete. Ela veio toda formosa, com seus movimentos suaves, porém sensuais. A Babá, uma senhora que aparentava quase 80 anos, parecia ter rejuvenescido no mínimo uns 40. Que coisa mais linda! Quanta força. Sentiu uma vibração forte, sabia que Padilha também estava ali.

Depois de conversar e cumprimentar os filhos que estavam mais próximos, D. Sete se juntou ao pequeno grupo onde se encontrava. Fez gracejos aos rapazes. Olhou curiosa e sorridente para a mocinha. Analisou-a! Naquele momento pode perceber claramente a conexão entre médium e entidade. Em tom divertido a Pomba Gira lhe disse: Não gosto muito de conversas com mulheres, mas te direi uma coisa, está muito bem acompanhada! Um relâmpago percorreu seu braço direito como se este tivesse vontade própria e fosse laçar algo. É, seu pai realmente estava presente. As duas trocaram um sorriso com os olhos e D. Sete continuou seu trabalho.

Lá fora a música da roda de samba diminuía, era hora de ir. Olhou mais uma vez aquela casa de caridade, o Conga, as entidades em ação, as pessoas. Agradeceu em uma prece a oportunidade de mais um experiência e se despediu.

Algumas pessoas são assim, saem de casa para irem ao Samba e terminam a noite em uma Gira de Umbanda junto aos Guardiões. Porque Umbanda tá no sangue!




De manhãzinha quando eu desço o morro, 
a nega pensa que eu vou trabalhar,
mas eu coloco meu baralho no bolso, meu cachecol no pescoço
e vou pra Barão de Mauá
Trabalhar, trabalhar
Trabalhar pra quê? 
Se eu trabalhar eu vou morrer!!!






Seu boiadeiro por aqui choveu
Seu boiadeiro por aqui choveu
Choveu, choveu, Relampiou
Foi tanta água que seu boi nadou




2 comentários: