segunda-feira, 8 de março de 2010

As "Princesinhas" do Méier

Perto da minha casa tem uma pensão que serve refeições desde 1973, muito antes de eu nascer. Chama-se Princesinha do Méier. Foi criada por um senhorzinho português que faleceu no ano passado e agora é gerenciada por seu filho. Esse é um lugar que freqüento sempre, já que não sou muito chegada em cozinhar. É um ambiente diferente, mas muito acolhedor, pitoresco e democrático. Lá existem 6 mesas enormes dispostas nos dois lados do Salão. Cada uma das mesas é responsabilidade de uma "Tia".

O cardápio tem geralmente umas 10 opções de pratos por dia. Carne assada com inhoque, churrasco de porco com fritas, panqueca de frango com aipim frito, frango com salada de maionese, peixe frito com purê de batatas, feijoada, omelete de bacalhau com batatas fritas, bife rolê com batatas e por ai vão as opções. A escolha da mesa é uma questão de afinidade com as Tias-garçonetes. Eu por exemplo só gosto de comer na mesa da D. Penha.

Quando ela vem me servir, já me informa, dentre os meus pratos preferidos, qual está mais gostoso aquele dia. Feito o pedido ela traz um caldeirão fumegante de feijão fresquinho e várias baixelas com arroz, salada de alface com cebola e tomate, farofa, salada de legumes e macarrão. Você se serve a vontade destas guarnições e elas podem ser partilhadas por todas as pessoas que estão na mesa. Pra quem gosta tem também sopa de entrada com fatias de pão. Cada dia tem uma diferente. E o público da terceira idade não as dispensa no inverno. Especialmente a Canja. E esta tudo incluído no valor da refeição que custa em torno de R$ 9,00. Só mesmo a bebida que é paga a parte. 

O ambiente é divertido e agradável, pois divide a mesma mesa o público mais diversificado. Tem o grupo da terceira idade que é o mais assíduo. Muito são viúvos e vão para lá para socializar. Estes são os mais apegados as Tias, que os cercam de muito carinho e atenção. Aos sábados alguns deles vão para a pensão para almoçar e tomar uma cervejinha. Outro dia eu e meu marido dividimos a mesa com dois casais de velhinhos, que devem estar na faixa dos 80 anos. Dava gosto de ver a animação deles e a disposição para comerem uma rabada com batata e agrião acompanhada de uma Brahma gelada. Eles pareciam adolescentes, um mexendo com o outro, fazendo piadas e falando alto. 

A molecada também tem seu espaço, volta e meia, chegam grupos inteiros uniformizados, são alunos dos colégios do bairro que vão almoçar enquanto esperam para voltarem a alguma atividade extra ou para aulas de reposição. Outras vezes vão comemorar o aniversário de algum deles. Tem ainda o pessoal da labuta, são pessoas que trabalham na região e vão atrás de uma comida de qualidade com fartura e preço justo. Nesse grupo tem de tudo, vendedores, secretárias de consultórios médicos, atendentes de lanchonetes, camelôs, advogados, professores, cabeleireiras, manicures, "peões de obra", tatuadores. E tem o grupo ao qual eu me encaixo que é o de moradores do Méier que não gostam de ter o trabalho de enfrentar o fogão. E acabam procurando a pensão por ter um ambiente familiar, uma variedade de pratos e a simpatia das Tias.

Aliás as Tias são "um capítulo a parte", como já disse elas são tão simpáticas e atenciosas que você acaba criando uma espécie de laço com elas. Algumas pessoas como eu preferem esperar vagar lugar na mesa da Tia preferida a sentar em outra mesa. E é engraçadíssimo, pois elas prestam atenção em você, elas sabem o que você gosta de comer e o quanto você costuma comer. Se você algum dia come menos do que o habitual ela te pergunta se a comida não estava boa, se você está se sentindo bem, ou se quer apenas perder uns quilinhos. Se a pessoa chega lá com uma carinha desanimada, aquela coisa mais ou menos, elas procuram saber se está tudo bem contigo. 

E elas chegam cedo para trabalhar, quando eu saio de casa por volta de umas 6:40h elas já estão chegando, todas arrumadas, com os cabelos e roupas impecáveis, são pessoas completamente diferentes fora dos uniformes que elas usam. São elas que preparam as refeições que são servidas na hora do almoço. Por isso elas ficam tão lisonjeadas quando vêem que as pessoas gostaram daquilo que comeram.

Outro dia eu encontrei a D. Penha depois do expediente, ela estava com a D. Maria que é outra Tia da Pensão. As duas estavam fofíssimas, maquiadas, perfumadas, duas belezuras. Fui correndo abraçar a D. Penha e quem estava em volta deve ter imaginado que ela era da minha família, tamanho o carinho. Acho que até ela se surpreendeu um pouco com a minha atitude. Talvez ela não esteja acostuma a ser "reconhecida" fora do seu uniforme de trabalho. Ou talvez as pessoas que tanto aproveitam do carinho dispensado por ela na hora do almoço não o retribuam fora daquele ambiente, pois acham que isso faz parte do trabalho dela. Afinal, tem gente pra tudo, né?

Assim, no dia Internacional da Mulher deixou aqui registrado meu carinho e respeito a todas as mulheres que como essas Tias são guerreiras sim, mas que não perdem a sensibilidade e o bom humor com a "ralação" do dia-a-dia. Não perdem o encanto de serem Super-Mulheres! Que neste "mundo moderno" precisam dar conta de uma infinidade de papéis!


"Deixe algum sinal de alegria, onde passes..." (Chico Xavier)





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