sexta-feira, 5 de março de 2010

Ação e Reação

De vestido amarelo, sapatos tipo boneca, cabelos modernamente cortados, tatuagens expostas na batata da perna e nos braços, unhas pretas, saboreando um frozen de iogurte com frutas da estação, Liana observa as vitrines do Shopping. Todas chamativas convidando os namorados a comprarem seus presentes para o 12 de Junho.


Tudo que ela gostaria de ter naquele momento era um namorado para fazer parte desta comemoração regada a cupidos, corações, chocolate, flores e faixas com mensagens de amor. Com 24 anos e terminando sua faculdade de moda, nunca tivera um namorado. Saia com rapazes interessantes, já havia se apaixonado diversas vezes. Mas sentia-se infeliz por nunca ter despertado o amor em nenhum deles.


Enquanto parava em frente a sua loja preferida, refletia sobre o porque disso, afinal é inteligente, bonita, com corpo atraente, tem seu próprio dinheiro. Amigas que não tinham nada disso já namoravam há anos, outras eram noivas e algumas poucas já estavam casadas e eram até mães.
O que afinal as tornava melhores do que ela? Onde exatamente ela estava errando?

Liana infelizmente não percebia que não havia nada de errado com a vida dela. Assim como não existe uma receita, um passo a passo, uma fórmula, para a felicidade! Ela que estivera sempre tão preocupada em construir a vida perfeita, não parava para observar quantas vezes deixará a felicidade de lado. Se consumindo com questões pequenas. Comparando-se constantemente com as amigas, querendo sempre aquilo que não lhe pertencia. Colocando-se em posições que não eram para ela.


Não notava que quanto mais ela tentava se encaixar num molde pré-estabelecido por sua construção de perfeição, mais ela se deformava, mais ela se perdia. Transformando sua essência em uma aberração.

Seus pensamentos foram interrompidos pelo celular, que tocava uma de suas músicas preferidas. Era sua amiga, Raquel. Acabará de chegar ao shopping e queria saber onde Liana estava. As duas combinaram um encontro após o trabalho para conversarem enquanto Raquel procuraria o presente para o namorado. Ao ver Raquel se aproximando, Liana deu vazão novamente a seus pensamentos. Observava as formas roliças de sua amiga, o jeito extremamente despojado de se vestir, os cabelos desgrenhados, sem corte. Julgava suas roupas feias, sem estilo. Raquel usava um vestido indiano surrado com uma sapatilha "fora de moda". Suas unhas não estavam feitas. Mas ela irradiava alegria ao ver a amiga.

Raquel abraçou Liana e as duas puseram-se a caminhar e conversar pelos corredores do Shopping. Ela amava Raquel, sua amiga dos tempos de colégio. Passaram a adolescência juntas. Sabiam tudo uma da outra. Dividiam alegrias e tristezas. No entanto, ela não conseguia saber como Raquel era sempre tão feliz! Mesmo não tendo as mesmas facilidades que ela. Mesmo enfrentando constantes problemas financeiros, frutos dos desequilíbrios de sua família. Tampouco entendia como ela tão desleixada com a aparência conseguirá encontrar um namorado tão bacana, bonito e apaixonado.

Sempre que encontrava os dois juntos e presenciava a cumplicidade e o amor deles, não conseguia controlar um sentimento ruim, uma insatisfação, um desgosto. Isso a incomodava, pois ela não conseguia se sentir contente com a felicidade da amiga. De repente Liana notou que a amiga chamava sua atenção para algo numa vitrine de loja masculina. Fingiu que observava com ela as camisas sociais que a amiga mostrava e a seguiu sem entusiasmo para dentro da loja. Um rapaz extremamente bonito e atencioso se aproximou para auxiliar Raquel. Liana se afastou sentando-se numa poltrona nitidamente desconfortável com aquela situação.

O vendedor muito solícito e empenhado em agradá-las ofereceu café e água as duas. Raquel aceitou e agradeceu enquanto Liana rabugenta e presa aos seus pensamentos respondeu antipática ao rapaz que tomaria uma água. Ele ainda sem jeito com sua resposta voltou sorridente com as bebidas e continuou seu trabalho junto a Raquel. Durante todo o tempo em que as duas estiveram na loja, ele não tirou os olhos de Liana que nada notara. Ao contrário de Raquel, que ficava tentando chamar a atenção da amiga para o flerte. Liana já irritada com a situação não conseguia entender porque Raquel pedia tanto sua ajuda com gestos exagerados, olhos arregalados, fazendo caretas. Sua mente estava fixa em seus pensamentos negativos, em seus julgamentos de como a vida era injusta com ela.

Percebendo que Liana não lhe dava atenção escolheu uma bata azul para presentear o namorado. Liana olhava a amiga e pensava que ela realmente não tinha bom gosto para escolher roupas nem mesmo para o namorado. Alheia a estes sentimentos, Raquel agradecia animadamente ao vendedor e se despediu. A amiga seguiu-a para fora da loja.

Liana perdida em suas amarguras, absorta em pensamentos invejosos, preferiu ignorar tudo que havia acontecido dentro da loja. Não notou que seu grande amor estava na sua frente. Não permitiu que seus instintos identificassem sua alma gêmea, o amor de tantas outras vidas. Dentro da atmosfera negativa que ela mesma criara, não percebeu que aquilo que ela tanto almejava estava na sua frente, sorridente e receptivo. A moça optara, mesmo que inconscientemente, por desperdiçar uma grande oportunidade de realizar um grande sonho, de tornar-se uma pessoa mais completa e feliz.

As duas continuaram o passeio. Acompanhando-as, invisíveis aos seus olhos, estavam seus guardiões. Os dois conversavam sobre as escolhas de Liana e Raquel. Comentavam como as amigas tinham uma percepção diferente da vida e sobre a dificuldade de Liana quanto à importância de suas escolhas, por menores que elas pareçam. São elas, associadas aos pensamentos, as atitudes que definem a trajetória de cada um. E se perguntavam quanto tempo Liana demoraria a entender isso.

Pensemos em nossas escolhas!
Toda ação gera uma reação, essa é a lei!

Por Dany Dany Aimé












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