segunda-feira, 3 de maio de 2010

Odo iá, Iemenjá!

A bela figura feminina vestida de azul com enormes cabelos negros, cobertos por um finíssimo véu azul e preso por um adorno de conchas no alto da cabeça, caminhava pela areia na beira do Mar. A todo instante as águas salgadas tocavam seus pés no incessante balanço.


Ela observava a todos que estavam naquela Praia. Mas ninguém era capaz de vê-la. Como uma boa anfitriã recebia cada filho com um largo sorriso, mesmo que nenhum deles pudesse retribuir. Dividia seu reino com grande felicidade, mesmo que muitos não soubessem respeitá-lo e preservá-lo, sujando-o com todo o tipo de lixo. Oferecia-lhes a oportunidade ímpar de equilibrarem suas energias, deixando o negativo que os acompanhava nas suas águas e reenergizando-se através do contato com aquele ambiente.


Muitos que ali estavam entendiam que aquele local é um Reino Sagrado pediam licença e faziam honrarias antes de entrarem nas águas, mas a grande maioria só pensava em diversão e lazer. Mas isso não a incomodava. Ela não estava ali para julgá-los, sua missão era ajudá-los e inspirar-lhes boas vibrações. Auxiliar os aflitos que pediam socorro.


De repente a bela mulher parou e viu uma moça que andava pela areia em direção ao Mar. Seu rosto estava tenso, os olhos fixos nas águas, carregava algumas flores brancas nas mãos bem junto ao peito. Ela parou um pouco antes da marca das ondas na areia. E ainda olhava fixamente para as águas. Fechou os olhos e começou uma oração, um pedido em silêncio e as lágrimas correram seu rosto. A senhora de Azul ouvia atentamente cada uma das palavras que surgiam em sua mente.


Se aproximou mais da jovem que sentiu uma vibração diferente e automaticamente seu corpo todo arrepiou-se levemente. Postou a mão direita sobre coração e a esquerda sobre sua fronte. Um calor reconfortante tomou conta da moça que apertava com mais força as flores contra o peito. Ao mesmo tempo as lágrimas cessaram e um delicioso sentimento de esperança tomou seu ser. Era como se tivesse certeza de que suas preces foram ouvidas e de que mesmo que não fossem atendidas com a urgência que ela gostaria, sentia que não estaria sozinha em suas batalhas e dificuldades.


Diante de toda aquela energia, invisível, mas completamente real, aproximou-se mais e mais das águas que tocaram seus pés. Abaixou, molhou a mão direita, fez um sinal da cruz e agradeceu a Iemanjá. Colocou então as flores numa onda que voltava ao Mar, para que fossem levadas a sua Mãe. Com as mãos livres molhou a nuca e os cabelos e sentiu a sensação de conforto e amparo aumentarem ainda mais. A senhora das Águas Salgadas permanecia ao seu lado sorrindo. Observando-a em sua limpeza espiritual, naquele simples, porém poderoso, ritual.


A jovem sentia que naqueles poucos instantes havia tirado um enorme peso de cima de seu corpo. Olhou novamente mais alguns instantes para as ondas. Mentalizando uma prece de agradecimento. Sem que ela notasse uma lindíssima cabocla se aproximou dela e ficou ao seu lado. Era a Cabocla Jurema da Praia, que por ordem de Iemanjá a acompanharia até a sua casa. Auxiliada por alguns guardiões o grupo faria uma limpeza em sua residência para retirar alguns obsessores que há tempos vinham atrapalhando a vida da moça e de sua família.


Enquanto isso, a doce Iabá, Iemanjá, em meio as ondas continuava a ouvir seus filhos, pois o chamado da Caridade não finda!


Por Dany Dany Aimé




Assim eu me lembro que um dia Vovó Catarina me disse: "Minha filha, eu não te digo que fazendo a sua parte na Caridade a sua vida deixará de ter problemas ou sofrimentos, mas eu te prometo, que na Caridade, você sempre se sentirá amparada, em qualquer situação". E é exatamente assim desde então! 










Ô sereia, sereia,


Ô sereia que nada no mar.


                


Ô sereia que nada no mar,


Ela é filha de Iemanjá.


                

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