sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Nada se cria, tudo se copia...

Hoje eu acordei pensando em "coisinhas" antigas e em "coisinhas" atuais. Pensei em como o blog me lembra os diários que eu tinha quando era criança. Eu amava aqueles diários com fechadura e chave. Onde eu escrevia "meus maiores segredos" e sempre começava com a data e "Meu Querido Diário...". No meu primeiro diário lembro que minhas professoras da 3ª série primária escreveram mensagens de final de ano muito bonitas. Simples mensagens que volta e meia eu re-lia quando arrumava minhas recordações de infância. Hoje não faço idéia de que rumo teve esse diário, mas sei que demorei muito para decidir me desfazer dele, pois tenho uma enorme dificuldade de me desapegar daquilo que gosto e que demonstra o carinho das pessoas.

Nessa mesma época eu era louca por colecionar papéis de carta. Eu carregava, para cima e para baixo, aquela pasta enorme com papéis variados. Tinha papel de carta muito colorido, outros eram perfumados, alguns acompanhavam os envelopes coordenados, outros tinha formatos diferentes ou o desenho sombreado, bem clarinho. Muitos eram ilustrados com personagens famosos na época como os Ursinhos Carinhosos, a turma da Moranguinho, os bonequinhos "Amar é", a Hello Kitty e uma série de bichinhos fofos e bonequinhas rosadas e cheias de fru-frus. Levava a tal pasta para a escola com todo o cuidado e durante o recreio era aquela farra, uma amiga vendo a pasta da outra, fazendo propostas de trocas para os que tínhamos repetidos. Como os meninos faziam com as figurinhas repetidas dos álbuns de futebol. Ah, "quanta" preocupação nós tínhamos além da escola. A arte de se fazer uma boa negociação, uma boa troca. Eu me divertia demais!

Esses mesmo papéis serviam para escrevermos cartas para os familiares, as amigas, as professoras, os namoradinhos e quem mais merecesse esse mimo. Cartinhas escritas com canetas coloridas e perfumadas; decoradas com corações, flores, adesivos e tudo mais o que o universo feminino-infantil permitisse. Atualmente os scraps coloridos, brilhantes e musicais do orkut com textos fofos e as mensagens neste estilo, que as pessoas trocam por e-mail, me remetem a estas cartinhas famosas entre as meninas em meados dos anos 80. Pela internet troca-se recados com demonstração de afeto muitas vezes com pessoas que nunca vimos pessoalmente. E não é que tem vezes que essas pessoas, que só nos conhecem através daquilo que colocamos na rede e nos vêem através de uma tela de computador, conseguem nos mandar mensagens que fazem todo o sentido em um determinado momento. Isso me impressiona muito!

Durante minha adolescência os diários já estavam ultrapassados e as agendas de marcas famosas como Cantão, Company, Redley, Chomp, Anonimato e tantas outras, eram a última moda. As agendas eram rechonchudas de tantos clipes coloridos, fotos e recortes de ídolos tirados das revistas. Eu e minhas amigas tínhamos códigos para cada letra do alfabeto e memorizávamos. Como as agendas não possuíam os cadeados dos diários foi preciso criar uma forma de registrarmos os segredos sem que estes pudessem ser lidos por irmãos fofoqueiros ou mães curiosas. Me lembro até hoje deste código. Que engraçado!

Nessas agendas todos os aniversários importantes ficam registrados e os amigos deixavam dedicatórias na data do seu aniversário. Os telefones também eram todos guardados ali. Eu posso afirmar que a vida de uma adolescente estava em sua agenda, pois em alguns casos até as datas de trabalhos "grandes" eram anotadas nas benditas. Para que não se perdesse o prazo de entrega. Me lembro perfeitamente que quando estava na 6ª série, uns meninos malas de outra turma roubaram minha agenda. Nossa, a idéia de ter minha agenda furtada e talvez "violada" por meninos me deixou irada. Mas do lado do meu colégio tinha um moço muito legal. Ele era filho do dono da loja de ferragens e trabalhava ajudando o pai. Esse moço notou que eu estava desesperada tentando convencer os tais garotos a devolverem minha agenda. E me surpreendeu ao sair da loja e tomar a agenda deles para me devolver. Sou grata a ele até hoje por isso!

Não me preocupava nesta situação com os segredos, pois como disse usava um código. O que me preocupava era com a possibilidade dos pestinhas macularem minha companheira daquele ano. Tirarem minhas fotos do lugar, rabiscarem as páginas, amassarem os recortes dos meus ídolos, ou simplesmente ficarem lendo e debochando dos recados das amigas e dos bilhetes das paqueras que ficavam presos na folha referente ao dia que os recebi. Tinha dia que uma página era pouca para tantas "emoções e aventuras". Especialmente emoções, já que adolescentes são uma bomba-relógio de emoções!

Agora o orkut e o twitter ocupam o lugar destas agendas. Eles têm um espaço gigantesco para as fotos, os ídolos, as músicas preferidas. Pode-se criar um bonequinho com a nossa cara. Os amigos escrevem recadinhos ou depoimentos, quantas e quantas vezes quiserem, pois o espaço é "infinito", não dispõem apenas de uma única página por ano para escrever. E o microblog, Twitter, permite escrever a todo instante pequenos fragmentos do dia. "Postar" frases engraçadas, reenviar as frases de intelectuais, jornalistas, famosos. E nisso os relacionamentos se expandem e ganham novos formatos, mas isso é um outro papo e fica pra depois!

Esse "blá, blá, blá" todo para dizer que não importa os suportes onde estão as nossas recordações, os nossos segredos, o nosso singelo "arquivo pessoal e intransferível", as manifestações de afeto recebidas. O que importa definitivamente é o sentimento que fica registrado em cada um. As lembranças que ficam marcadas em nossa alma não desaparecem, já que não podem ser descartadas com um pedaço de papel ou mesmo um registro eletrônico. E muito bem diz o ditado, "O que a gente leva dessa vida é a vida que a gente leva".

"Falei" tanto que talvez hoje eu deveria ter iniciado o post com: "Meu querido blog..."

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