quarta-feira, 10 de março de 2010

Amigos verdadeiros

A minha relação com os animais de estimação é de muito amor e respeito. Mas é um tipo de amor completamente diferente do que rola entre "nós humanos", é puro, não envolve ciúmes, nem nenhum tipo de cobrança, não rola questionamentos, não precisa de porques. A minha família sempre teve diferentes amiguinhos, papagaios, periquitos, tartarugas (na verdade cágados) e os "clássicos", cães e gatos. Passei a minha infância rodeada por todos eles e posso afirmar que o contato direto com eles, a companhia e esse amor desinteressado e incondicional são capazes de moldar o caráter de qualquer pessoa "mais ou menos".


Confesso que tenho um carinho especial com os cães. E olha que já fui mordida por dois que conviveram comigo. O primeiro a me morder foi o terrível ,pastor Belga, chamado Pink. Meu tio levou ele para a casa da minha avó, que morava em cima da casa dos meus pais. Eu devia ter uns 10 anos no máximo. Esse cachorro era "da pá virada", já era adulto quando foi morar com a gente e passara por diversas casas, mas como ele era agressivo ninguém ficava com o pobre. Claro que meu tio quis dar abrigo a ele. O bicho era lindíssimo, tinha um pêlo vasto, um porte grande de pastor, todo dourado com os olhões amarelos. Ele me mordeu porque queria me tomar o salaminho que eu estava comendo. Não quis entregar e ele tomou na mão grande, quer dizer na boca grande. O dente dele acabou fazendo um rasguinho na minha mão. E as unhas da pata arranharam minha barriga. Já que ele caiu por cima de mim.


Depois ele mordeu meu pai, pois achou que ele estava machucando um filhotinho dele. Nesta ocasião tive a oportunidade de passar por uma das cenas mais interessantes e intrigantes "do mundo animal". Além dele, meu tio havia levado para a nossa casa uma cadela também adulta, que também fora abandonada, ela era "um pastor alemão". Seu nome era Xuxa. Ela e o Pink, logo depois que chegaram, tiveram uma linda ninhada de filhotinhos. Como nós não tínhamos "intimidade" com a Xuxa, ela e seus filhotes ficavam numa área de serviço desativada. Um dia, um dos filhotes dela caiu dentro de um ralo que estava destampado e ficou preso lá, a bichinha entrou em desespero, pois não conseguia tirá-lo do buraco. Meu pai mesmo com medo dela acabou entrando no seu território para pegar a pequena bolinha de pêlos e ela parecia que entendia que ele iria ajudá-la.


O agradecimento dela pela atitude "heróica" não tardaria e seria simplesmente impressionante. Numa das comuns algazarras daquela cachorrada o Pink acabou pisando em um dos seus filhotes, que ficou chorando assustado. Meu pai foi vê-los e quando abaixou para pegar o filhote o Pink avançou com tudo nas costas dele. Ele provavelmente achou que meu pai machucaria mais o filhote. Meu pai se virou para afastá-lo com medo e ele, praticamente, estraçalhou o braço dele. Quando a Xuxa percebeu o que estava acontecendo partiu pra cima do macho com tudo e as atenções do Pink voltaram-se para ela. Os dois se atracaram e meu pai conseguiu fugir para dentro de casa e se trancar.


Me lembro perfeitamente dele andando pela casa com dor, segurando o braço "lavado" em sangue. De quando ele voltou do hospital e que a partir disso o Pink passou a ficar em um espaço na lateral da casa onde mais ninguém tinha contato direto com ele, apenas o meu tio que o adotou. Ele ficou responsável por cuidar dele até o final da vida. Nunca ninguém da minha família pensou em sacrificá-lo, nem em despachá-lo mais uma vez. Ele fora perdoado!

Já a Xuxa depois deste episódio se transformou em uma enorme companheira de farra para a criançada da casa. Sua brincadeira preferida era o futebol. Ela sempre era a goleira. E a sua bola nada mais era que um desentupidor de pia sem o cabo. Como ela sempre acabava destruíndo a bola depois de algum tempo, me lembro que minha avó vivia comprando desentupidores. Era um item que não faltava na despensa dela. E ela ainda escolhia as cores mais bonitas.


Só que eu particularmente tenho vocação para amar cães machos, ranzinzas e neuróticos. E não seria diferente mais tarde com a chegada, diretamente de São Paulo, do cachorro mais lindo de todos. O meu malamute rabugento, Tico! Esse cão sem-vergonha, que atendia mais pelo comando "Toma" do que pelo seu nome. Que vivia brigando para ficar em frente ao ventilador, afinal uma raça que veio do Alasca no Rio é uma loucura. Que não aceitava nenhum cão como concorrente. Que fazia sucesso na saída do Hélio Alonso, quando minha mãe levava ele para nos buscar, e ainda bebia coca-cola todo feliz. Que gostava de carinho no suvaco (ou "subaco"). Que era o melhor amigo dos entregadores de pizza, seu prato preferido. Que adorava roubar a comida dos meus namorados, afinal ninguém tinha peito de enfrentá-lo. Que odiava ser penteado. Que não latia, só uivava e emitia sons estranhíssimos. Esse mesmo me mordeu, em um belo dia que eu cismei que ele tinha que ficar com óculos escuros. Afinal, que cão não usa óculos escuros, né? Após alguns rosnados de alerta e diante da minha insistência em perturbá-lo ele enfim me deu uma dentada na mão. A cicatriz esta aqui até hoje, marcada na minha pele. E a tatuagem que eu fiz em sua homenagem, depois de seu falecimento com 16 verões cariocas, muitas rosnadas, muita teimosia e muitas alegrias, também!


Agora temos a famosa-carinhosa-amiga-companheira-dócil-internauta-tarada por ossinhos-cabeçuda, Cocão. Ela chegou em um período que o Tico estava muito velhinho e debilitado. Confesso que até me senti culpada quando notei que ela era o centro de nossas atenções por ser um filhote e que ele estava meio de lado. Mas hoje vejo que ela foi um presente. Por inúmeros motivos, que não cabem agora neste post. Mas especialmente por ter tornado a perda do Tico um pouco menos triste, pois ela estava lá para nos fazer companhia e nos dedicar todo aquele amor que só ela tem.


A Cocão nunca me mordeu! Cocão nunca mordeu ninguém. Cocão não é macho! Cocão não tem uma raça inusitada. Cocão inclusive não tem raça definida. Cocão talvez até seja um pouco neurótica, devido à sua síndrome de carência afetiva. Cocão que é obediente e sabe fazer alguns truques. Cocão atende prontamente pelo seu nome divertido. Cocão adora brincadeiras. Cocão é uma cadelinha SENSACIONAL. Hoje é o aniversário dela, ou pelo menos é o dia que comemoramos o seu aniversário. Pois foi nesta data que ela chegou a nossa família (mas essa história também fica para depois). Cocão, assim como o louco do Pink, a goleira Xuxa, e o ranzinza Tico, é uma criatura de Deus que me encanta e alegra, é uma lição daquilo que minha mãe diz, que amor é pra se dar. E essa lição eu levarei pra todas as minhas vidas.

Penso que os cães parecem ter o espírito mais evoluído que o nosso. Talvez aqueles que já "queimaram" todos os seus Carmas voltem ainda mais uma última vez para transmitirem de uma forma primitiva, porém singela, aquilo que é pregador por muitas religiões, a verdadeira caridade! Alguém tem dúvida de que nossos amigos distribuem amor sem esperar qualquer tipo de retribuição ou reconhecimento?


Vamos aprender com quem tem para ensinar! Pois sabedoria é muito mais do que letras impressas em papel ou palavras "cuspidas" pelos homens!




Tico, o malamute rabugento, esperando a borda da sua pizza preferida, frango com catupiry!




Cocão, a doce Menininha, em momento chamego!
Amor para todas as horas!



"Os cães são o nosso elo com o paraíso. Eles não conhecem a maldade, a inveja ou o descontentamento. Sentar-se com um cão ao pé de uma colina numa linda tarde, é voltar ao Éden onde ficar sem fazer nada não era tédio, era paz." (Milan Kundera)

3 comentários:

  1. Bela homenagem aos "aumigos" amigos de todas as horas e momentos,esse muitas vezes especias!
    Saudades dos que foram,amor dos que estão conosco.
    Afinal,amor é "pra" se dar!

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  2. Confesso que morri de rir com a parte do salaminho.
    Lindo, amiga. Eu compartilho desse amor inabalável pelos cachorros também. Quando eu era criança e passava as férias em Iguaba, tinha uma vizinha que tinha um cocker chamado Theo. Todo dia eu e a minha irmã acordávamos as seis da manhã e íamos brincar com ele no portão. Ficávamos horas lá, fizemos musiquinha e tudo pra ele. Até hoje eu me lembro do cheiro dele. Todo ano era assim, desde que eu tinha sete anos. Num feriado prolongado, quando eu tinha 14 anos, passei pela casa, vi o Theo e fui brincar. Ele mordeu a minha mão, deixou uma cicatriz que está aqui até hoje, eu tive que tomar vacina e etc. Eu amo muito o Theo e amo a cicatriz também porque me lembra ele.
    Meu primeiro cachorrinho era o coker spaniel, como o theo, ele era MUITO levado e não dormia a noite. Nos deu muito trabalho. A morte dele, aos 11 meses, foi muito triste. Não sei quantos anos eu demorei para me recuperar. Sei que agora eu tenho a Paris e ela é a coisa que eu mais amo no mundo. É exatamente isso, amor desisnteressado.
    Muitos beijos pra Cocão! Que ela tenha muitos anos de vida feliz ao lado de pessoas que a amam!

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  3. oi Dany tudo bem? Sempre passo por aqui e adoro. Sinto que estou ouvindo voce falar e isso é tão bom!! Adorei que voltou para meu mundinho virtual também! Beijos, bom final

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